Guia para Regularização de Agroindústrias da Agricultura Familiar Agroecológica
Ano 2021
Parceiros realizadores
Guia para
Regularização de
Agroindústrias da
Agricultura Familiar
Agroecológica
Ano 2021

O projeto

A Muká – Plataforma Agroecológica é uma iniciativa conjunta da Rede de Agroecologia Povos da Mata, do Instituto Ibi de Agroecologia e da organização Tabôa – Fortalecimento Comunitário, criada para contribuir com o fortalecimento e a disseminação da agroecologia por meio da atuação em seis eixos: Produção, Beneficiamento, Comercialização, Crédito, Certificação e Fortalecimento Institucional.

Interdependentes e complementares, os eixos consolidam uma estratégia unificada. Enquanto a Produção apoia a família agricultora, por meio do acompanhamento técnico rural especializado, a Comercialização abre mercados e implementa circuitos curtos e circuitos entre redes, assegurando o escoamento do excedente da produção. O suporte se expande no Beneficiamento, que orienta a regularização das agroindústrias familiares, quando os agricultores decidem dar um passo além da produção e começam a processar seus produtos, agregando valor de venda e facilitando a comercialização. O Crédito oferece alicerce extra, desenvolvendo e operacionalizando novos modelos de financiamento para os três eixos anteriores, sem as limitações impostas pelos bancos oficiais. Já os eixos Certificação e Fortalecimento Institucional aportam recursos e conhecimento para que os agricultores possam atuar em conformidade com a legislação, tendo o suporte de suas redes, cooperativas ou coletivos em geral.

E, assim, seguimos em direção a uma agroecologia forte, ao mesmo tempo que buscamos manter e estreitar vínculos com todos os públicos envolvidos, do agricultor ao consumidor, sem deixar ninguém para trás.

As conquistas alcançadas por cada eixo impulsionam os demais. É o que acontece com este Guia de Regularização para Agroindústrias da Agricultura Familiar Agroecológica, que representa um avanço para a plataforma como um todo.

Desde 2018, quando a plataforma foi lançada, o eixo de Beneficiamento tem se defrontado com a demanda reprimida de agricultores interessados em regularizar suas unidades de processamento. Entre os desafios encontrados por eles, estava o entendimento da legislação brasileira sobre o tema, complexa e com informações difusas.

 

Com isso em mente, a semente desta publicação germinou dentro do grupo de trabalho em Legislação Sanitária de Alimentos, criado no Circuito de Seminários de Produção Orgânica, evento realizado pela Muká (na época, Circuitos Agroecológicos), em parceria com o Sebrae Ilhéus, entre 18 e 20 de setembro de 2019.

A partir daí, a equipe do eixo de Beneficiamento deu início ao trabalho de compilação e organização das informações que resultaram nesta publicação, com destaque para Gustavo Magno Souza de Magalhães, que capitaneou as pesquisas e redigiu a versão original do guia.

O conteúdo das páginas seguintes, apresentado com mais detalhes na Introdução, tem como objetivo facilitar a compreensão da lei, assim como a decisão familiar sobre iniciar um empreendimento no ramo de processamento de alimentos, reforçando o valor das tradições dos produtores familiares e de suas comunidades através do aperfeiçoamento dos seus processos produtivos para que esses empreendimentos não sejam apenas economicamente viáveis, mas também ambientalmente sustentáveis e socialmente justos.

Boa leitura!
Equipe Muká

Introdução

Por sua complexidade, as legislações jurídica, fiscal, tributária, ambiental e sanitária vigentes no Brasil quase sempre representam um desafio adicional para as empresas de pequeno porte, microempreendedores individuais, agricultores familiares, empreendimentos comunitários e atividades da economia solidária. As normas e exigências legais inerentes à produção, beneficiamento e comercialização foram criadas com base nos modelos de produção industrial e não nos sistemas artesanais, familiares e comunitários, que, por sua natureza, demandam um olhar diferenciado sobre a normatização.

Ainda assim, conhecer tais normas é fundamental para orientar a decisão de iniciar ou não um empreendimento e, posteriormente, avaliar riscos e oportunidades na gestão. Pensando nisso, esta publicação traz um extenso levantamento e uma abordagem prática das questões relacionadas às normas jurídicas, sanitárias e ambientais que incidem sobre um público bastante específico: a propriedade agrícola familiar e agroecológica.

A propriedade agrícola familiar garante a subsistência e segurança nutricional da comunidade na qual está inserida, além de gerar renda por meio da comercialização dos excedentes da produção. Geralmente, seus produtos são comercializados como matéria-prima (frutas, verduras, legumes etc.) e têm pouco valor agregado, favorecendo o surgimento de atravessadores na fase de comercialização.

Com o aumento da demanda por alimentos saudáveis e de qualidade, a responsabilidade socioambiental de quem produz alimentos está cada vez maior e a atenção da sociedade tem se voltado para o papel do pequeno produtor. Produtos originados em ambientes naturais e manejados por comunidades tradicionais e agricultores familiares se destacam neste contexto.

Mas em um mercado que exige regularidade da oferta, produção em escala, preços competitivos, apresentação eficiente, nota fiscal, registros e certificações, empreendimentos agrícolas de pequeno porte enfrentam desafios, como: • produzir em escala suficiente para garantir o abastecimento contínuo; • manter determinado padrão nos produtos, principalmente em relação à cor, textura, peso; • contar com profissionais especializados para assessorar o processo produtivo e a comercialização dos produtos; • investir em desenvolvimento de marca e divulgação; • agregar o valor socioambiental ao preço dos produtos; • investir em estocagem para driblar a sazonalidade da produção; • acessar linhas de crédito.

Não existe uma receita pronta para solucionar todos estes e tantos outros desafios. Mas existem, sim, caminhos e soluções possíveis, tanto para produzir quanto para beneficiar. No caso dos alimentos processados, muitos desses caminhos e soluções passam pela regularização e certificação da unidade de beneficiamento. As próximas páginas oferecem as informações necessárias para conquistar essa etapa.

O Capítulo 1 – Regularização Jurídica, Fiscal e Tributária reúne orientações para a criação, regularização ou manutenção de associações, cooperativas ou empresas. Integrar uma dessas organizações é o primeiro passo no processo de regularização da agroindústria familiar.

No Capítulo 2, encontram-se as orientações sobre Regularização Ambiental. A legislação de estados e municípios tem origem nas Resoluções do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e em leis federais, porém, atualmente, existe uma tendência de simplificação ou dispensa de licenciamento para os empreendimentos da agricultura familiar. O capítulo se concentra naquilo que é indispensável neste âmbito.

O Capítulo 3 – Regularização Sanitária traz, finalmente, as normas e exigências para a legalização das unidades de beneficiamento e/ou processamento da agricultura familiar. Além da legislação sanitária e dos registros obrigatórios, são disponibilizados (via QR Code) um modelo de Manual de Boas Práticas de Fabricação (MBPF) e um roteiro para a elaboração de rótulos para alimentos processados. Vale ressaltar que a adoção de boas práticas de fabricação é tão importante quanto a infraestrutura dos empreendimentos, pois são elas que garantem a segurança alimentar almejada pelos órgãos normativos.

É importante pontuar que as diferentes normas apresentadas aqui incidem em várias etapas das cadeias produtivas, além do beneficiamento e processamento de alimentos e que estas mesmas normas são alteradas, atualizadas ou revogadas com frequência. Deste modo, no momento de aplicar ou usar alguma das normas descritas aqui, faz-se necessária a consulta aos órgãos competentes para confirmar a sua vigência.

Além disso, os produtores familiares e comunitários e suas representações e organizações de apoio podem e devem participar dos fóruns de políticas públicas, como, por exemplo, as ações da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais e os eventos realizados pelos órgãos de fiscalização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Só desta forma a legislação sanitária poderá vir, no futuro, a ser mais inclusiva e a incorporar a diversidade social, cultural e ambiental em todos os seus mecanismos.

Capítulo 01

TIPOS DE EMPREENDIMENTOS JURÍDICOS

O Código Civil Brasileiro divide as pessoas jurídicas privadas em três tipos: associações, fundações e sociedades, que podem ser empresas ou cooperativas. Neste capítulo, serão …

Obrigações das Pessoas Jurídicas

As obrigações específicas podem variar de acordo com o tipo de atividade da organização. Recomenda-se que o contador da organização seja consultado para levantar informações …

Capítulo 02

Regularização Ambiental

Algumas normas ambientais vão se ajustando às especificidades dos empreendimentos das comunidades tradicionais e agricultores familiares, como, por exemplo, a Resolução nº 237/19…

Normas Ambientais Complementares

São outras normas ambientais que podem incidir sobre os empreendimentos e outras etapas dos processos produtivos das comunidades tradicionais e agricultores familiares, para …

Capítulo 03

Regularização Sanitária

A regularização sanitária costuma ser a etapa mais complexa do processo de regularização de uma unidade de beneficiamento e só pode ser realizada mediante a adequação aos procedimentos …

Enquadramento e Regularização

O controle sanitário de alimentos é realizado pelos órgãos da Saúde – representados pelos serviços de Vigilância Sanitária dos municípios e estados – e pela Anvisa (em nível federal), assim como …

Boas Práticas de Fabricação (BPFs)

O controle sanitário de alimentos é realizado pelos órgãos da Saúde – representados pelos serviços de Vigilância Sanitária dos municípios e estados – e pela Anvisa (em nível federal), assim como …

Rotulagem de Alimentos

A embalagem contendo a rotulagem estabelece o primeiro contato entre o alimento e o consumidor e tem a função de proteger o produto contra injúrias e condições adversas de temperatu…

Rotulagem de Alimentos Orgânicos

As Normas e Regulamentos anteriormente comentados são válidos para todo alimento embalado colocado no mercado de consumo. No caso do alimento orgânico, devem ser obser…

QUEM FAZ

Muká - Plataforma Agroecológica

Realização
Rede de Agroecologia Povos da Mata
Tabôa Fortalecimento Comunitário
Instituto Ibi de Agroecologia

GUIA PARA REGULARIZAÇÃO DE AGROINDÚSTRIAS DA AGRICULTURA FAMILIAR AGROECOLÓGICA

Concepção
Eixo de Beneficiamento da Muká – Plataforma Agroecológica

Coordenação-geral
Tatiane Botelho da Cruz

Pesquisa e Organização
Gustavo Magno Souza de Magalhães

Supervisão Técnica e Conteúdo
Luciane Aliprandini

Revisão Técnica
Mathias Fernandes (Capítulo 1)
Fernanda Bertuol (Capítulo 2)

Coordenação Editorial
Cinthia Sento Sé

Revisão
SLA Propaganda

Edição e Diagramação
SLA Propaganda

Fotos
Luisa Dörr
Acervo Muká – Plataforma Agroecológica

Este documento é de responsabilidade da Muká - Plataforma Agroecológica e não reflete a posição de seus parceiros estratégicos ou financiadores.
www.muka.org.br